
Nos últimos anos, o avanço da inteligência artificial trouxe benefícios para diversos setores, mas também desafios significativos, como o crescimento das deepfakes — vídeos e áudios manipulados para imitar a aparência e a voz de alguém. Essas falsificações têm sido amplamente usadas para espalhar desinformação e fraudes, impactando desde figuras públicas até usuários comuns das redes sociais.
Diante desse cenário, a Meta, empresa responsável pelo Facebook e Instagram, anunciou uma nova ferramenta de reconhecimento facial e de voz para combater anúncios falsos que utilizam deepfakes sem autorização. O recurso, chamado CelebBate, está em fase de testes e promete oferecer maior proteção contra esse tipo de golpe.
Neste artigo, exploramos o impacto dessas tecnologias, os desafios da identificação de deepfakes e as implicações legais envolvidas.
O perigo dos deepfakes e anúncios falsos
Deepfakes são vídeos manipulados por IA para imitar uma pessoa real. Essa tecnologia permite que criminosos usem rostos e vozes de celebridades, empresários e até pessoas comuns para criar conteúdos enganosos.
Essas falsificações são frequentemente usadas para:
✔ Enganar consumidores em anúncios falsos de produtos e investimentos.
✔ Disseminar desinformação em contextos políticos e sociais.
✔ Criar golpes financeiros, como vídeos de líderes empresariais pedindo transferências de dinheiro.
O problema se tornou tão sério que empresas de tecnologia têm investido em soluções para identificar e remover esse tipo de conteúdo antes que ele cause danos.
Como funciona a nova tecnologia da Meta?
A Meta já possuía ferramentas de reconhecimento facial, mas havia descontinuado esse recurso devido a regulamentações, principalmente na Europa. Agora, a empresa retomou essa tecnologia, focando na proteção contra o uso indevido da imagem e voz de pessoas.
O CelebBate funciona da seguinte maneira:
- Análise de rosto e voz – A ferramenta identifica rostos e vozes em vídeos e imagens, comparando-os com um banco de dados para detectar manipulações feitas por IA.
- Detecção de alterações – O sistema verifica se um rosto foi sobreposto a outro corpo ou se a voz foi alterada digitalmente.
- Remoção automática – Caso um conteúdo seja identificado como deepfake, ele pode ser removido automaticamente das plataformas da Meta.
- Proteção para usuários comuns – Além de proteger celebridades, a tecnologia também ajudará pessoas comuns a identificar perfis falsos que usam suas imagens.
Essa abordagem visa evitar que influenciadores, artistas e até empresários tenham sua imagem utilizada de forma fraudulenta, protegendo não apenas a reputação das vítimas, mas também os consumidores que poderiam ser enganados por essas falsificações.
Os desafios na detecção de deepfakes
Apesar dos avanços na tecnologia, ainda há desafios significativos na identificação de deepfakes, especialmente quando se trata de áudios isolados.
Vídeos manipulados são mais fáceis de detectar, pois há elementos visuais que indicam alterações (como movimentos estranhos da boca e iluminação inconsistente).
Áudios falsos são mais difíceis de identificar, porque a IA já consegue imitar tons de voz com muita precisão. Sem um vídeo para comparar, pode ser quase impossível diferenciar um áudio real de um fabricado.
Segundo Luís Milagres, Executivo de Segurança Digital, a recomendação para os usuários é sempre desconfiar de mensagens de áudio que pareçam estranhas ou fora do padrão da pessoa. Como ele explicou em entrevista à BandNews:
“Se [a mensagem] muda radicalmente esse viés, só o áudio mudando dessa forma e te indicando acessar um site, ou te indicando alguma coisa, eu diria que eu suspeitaria, eu não seguiria aquela recomendação, mesmo se for vídeo com áudio.” (Meta combate anúncios falsos de celebridades com I.A. | BandNews).
O impacto da LGPD e regulamentações sobre deepfakes
A retomada do reconhecimento facial pela Meta levanta questões sobre privacidade e regulamentação de dados. No Brasil, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) determina que qualquer coleta e uso de dados biométricos (como reconhecimento facial) deve ser feita com consentimento do usuário.
Dessa forma, o CelebBate será opcional, ou seja, as pessoas poderão escolher se querem ativar essa proteção. Isso evita conflitos legais e garante que a tecnologia seja usada para segurança, e não para vigilância.
A GDPR (regulamentação europeia semelhante à LGPD) foi um dos motivos que levaram a Meta a interromper o reconhecimento facial no passado. No entanto, com os avanços nos golpes digitais, a empresa encontrou um equilíbrio entre privacidade e segurança, garantindo que a ferramenta seja utilizada de forma ética.
Estamos preparados para a era das deepfakes?
O lançamento do CelebBate representa um grande avanço na luta contra fraudes digitais. No entanto, nenhuma tecnologia é 100% infalível. Os usuários ainda precisam ficar atentos a sinais de manipulação e questionar conteúdos suspeitos.
Algumas dicas para se proteger contra deepfakes:
✔ Desconfie de anúncios e mensagens de áudio/vídeo que pareçam estranhas.
✔ Verifique se a fonte do conteúdo é confiável.
✔ Se receber um pedido suspeito de um conhecido, tente confirmar por outro meio.
✔ Mantenha-se informado sobre novas tecnologias e golpes digitais.
Com o avanço da IA, será cada vez mais difícil distinguir o real do falso. Mas com ferramentas como a CelebBate e uma boa dose de ceticismo, podemos evitar cair em armadilhas digitais.
17/03/2025