Leis que Protegem os Direitos de Crianças Influencers no Brasil e no Mundo

O crescimento exponencial das redes sociais e o surgimento de crianças influenciadas levantaram uma série de questões legais e éticas sobre a proteção de seus direitos. Com milhões de seguidores, essas crianças desempenham um papel central em campanhas publicitárias, gerando receitas significativas para suas famílias e para as marcas que as contratam. Contudo, a falta de uma legislação clara, em muitos países, coloca em risco o bem-estar e os direitos dessas crianças.

Neste artigo, exploraremos as leis que protegem os direitos das crianças influenciadas, tanto no Brasil quanto em outras partes do mundo, discutindo as principais diretrizes que vêm sendo desenvolvidas para garantir que elas sejam tratadas com respeito e dignidade.

As crianças influenciadas são aquelas que, através de suas contas em plataformas como Instagram, YouTube e TikTok, promovem produtos e serviços, geralmente supervisionados por seus pais ou responsáveis. Elas atraem milhões de seguidores, e a receita gerada por meio de parcerias e publicidade pode ser bastante significativa. No entanto, muitas dessas crianças podem não estar cientes do trabalho que estão realizando ou da extensão de sua exposição pública, o que levanta uma necessidade urgente de regulamentações que protejam seus interesses.

Em muitos países, uma regulamentação sobre crianças no mercado de trabalho já existe há décadas. Entretanto, o surgimento das redes sociais e a criação de conteúdo digital trouxeram novos desafios para a proteção infantil. O problema é que a exposição das crianças influenciadas ocorre majoritariamente no ambiente digital, onde as leis tradicionais nem sempre se aplicam de forma clara.

Nos Estados Unidos, uma das leis mais conhecidas que protegem os direitos das crianças trabalhadoras é o Coogan Act , criado na década de 1930 após o caso do ator mirim Jackie Coogan, que viu sua fortuna ser dilapidada por seus pais. Esta lei estipula que uma parte dos rendimentos dos artistas mirins deve ser depositada em uma conta bloqueada, chamada de “Conta Coogan”, que só pode ser acessada pela criança quando ela atingir a maioridade.

Embora essa lei tenha sido aplicada inicialmente a atores infantis, muitos advogados e especialistas em mídia argumentam que ela deveria ser contínua para influenciadores digitais, uma vez que o volume de trabalho, o impacto psicológico e a exposição são comparáveis ​​às crianças no setor de entretenimento tradicional. No entanto, a aplicação da Lei Coogan no mundo digital ainda não é universal.

A França é um dos países pioneiros na criação de uma legislação específica para crianças influenciadas. Em 2020, foi promulgada uma lei que regulamenta o trabalho infantil nas redes sociais, garantindo que os rendimentos gerados por essas crianças sejam protegidos e que a sua exposição pública seja limitada. A lei francesa exige que uma porcentagem dos ganhos das crianças seja colocada em uma conta bloqueada até que elas atinjam 16 anos. Além disso, ela estabelece que o uso de crianças em vídeos e conteúdos comerciais só pode ocorrer mediante autorização formal do governo.

Essa legislação é considerada um avanço significativo, pois libera o status das crianças influenciadas como trabalhadoras e tenta criar um equilíbrio entre sua atividade nas redes e a preservação de sua infância.

No Brasil, uma regulamentação específica para crianças influenciadas ainda é incipiente. Embora o país tenha leis trabalhistas e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que visa proteger os direitos das crianças em diversas áreas, não há uma legislação clara que aborde diretamente o trabalho infantil nas redes sociais.

A Lei nº 10.406/2002, do Código Civil Brasileiro, e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em tese, se aplica às crianças e adolescentes no trabalho formal, mas não abordam diretamente a questão das redes sociais. No entanto, o ECA possui diretrizes gerais que podem ser interpretadas no contexto digital, como a garantia ao direito à educação, ao lazer e à convivência familiar, além da proteção contra a exploração econômica. Com o aumento da pressão da sociedade e das organizações de proteção infantil, os debates sobre uma regulamentação específica para crianças influenciadas estão ganhando força no país.

Recentemente, o Projeto de Lei 2347/2022 busca mercados internacionais para a profissão de influenciador digital no Brasil, o que pode ser um passo importante para proteger os direitos de crianças influenciadas.

Além das questões legais, existe um amplo debate ético sobre a exposição de crianças nas redes sociais. Muitas vezes, os próprios pais são os responsáveis ​​por administrar as contas de seus filhos e, em alguns casos, podem não estar satisfeitos no melhor interesse da criança. Isso levanta questões sobre a autonomia das crianças, seu direito à privacidade e as implicações psicológicas de serem expostas a um ambiente de visibilidade constante.

Outro ponto de discussão é a natureza do conteúdo produzido por essas crianças. Muitos vídeos e postagens, apesar de parecerem inofensivos, podem envolver uma intensa jornada de trabalho, onde as crianças são submetidas a longas horas de gravação, ensaios e interações com o público. A linha entre o que é lazer e o que é trabalho muitas vezes se torna tênue, o que dificulta a aplicação de uma regulamentação justa.

Com o aumento do número de crianças influenciadas e a pressão crescente sobre as indústrias de criação de conteúdo infantil, é provável que mais países comecem a seguir o exemplo da França. No entanto, é crucial que essas legislações protejam não apenas os aspectos financeiros do trabalho das crianças, mas também garantam a sua saúde mental, privacidade e direito de se desenvolverem sem pressão indevida.

Os especialistas defendem que uma regulamentação eficaz deve:

  1. Definir limites claros de exposição para crianças nas redes sociais.
  2. Garantir que a maior parte dos rendimentos gerados seja reservada para o futuro da criança.
  3. Exigir relatórios de horas de trabalho, tal como ocorre no setor de entretenimento.
  4. Oferecer suporte psicológico para lidar com a pressão da fama e exposição precoce.

A proteção das crianças influenciadas apresenta desafios complexos que vão além das regulamentações trabalhistas tradicionais. À medida que mais crianças se tornam estrelas nas redes sociais, os governos precisam desenvolver leis que protejam sua privacidade, saúde e interesses financeiros. O Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer para criar uma legislação que contemple esses aspectos, mas o exemplo de países como a França oferece um importante ponto de partida.

Garantir que essas crianças tenham uma infância saudável, segura e equilibrada, enquanto navegam no mundo do entretenimento digital, é uma tarefa urgente e necessária para proteger seus direitos agora e no futuro.

16/10/2024

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